Conheça a história de Aracy de Carvalho, a brasileira conhecida como O Anjo de Hamburgo
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Nascida no Paraná, mais especificamente na cidade de Rio Negro, Aracy de Carvalho era filha de pai brasileiro e mãe alemã. Casou-se aos 22 anos de idade com Johann Eduard Ludwig Tess, um alemão com quem teve seu único filho, Eduardo Carvalho. No entanto, após cinco anos de união o casal acabou se separando e Aracy embarcou com seu filho para a Alemanha, a fim de morar com sua tia.
Fluente em quatro línguas, português, inglês, francês e alemão, rapidamente ocupou um cargo no consulado brasileiro em Hamburgo, passando a chefiar a Seção de Passaportes daquele órgão, o que mudaria para sempre não apenas a sua história, mas a de inúmeros judeus.
No consulado Aracy viria a conhecer João Guimarães Rosa, nome que anos mais tarde se tornaria um dos maiores escritores da literatura brasileira. À época, Guimarães era cônsul-adjunto do Brasil em Hamburgo e, sob a sombra da Segunda Guerra Mundial e da perseguição aos judeus, dois dos acontecimentos mais marcantes da história da humanidade, os dois viveram uma história de amor.
A vida de Aracy de Carvalho em risco
Acompanhando de perto o que acontecia com os judeus, Aracy de Carvalho optou por colocar a própria vida em cheque a fim de salvar o máximo de pessoas das mãos dos nazistas. Para isso, lançou mão dos privilégios obtidos com seu cargo no setor de passaportes no consulado brasileiro e ofereceu atalhos para que judeus entrassem no país.
No entanto, como obstáculo para os planos de Aracy de Carvalho, estava o próprio governo brasileiro, que, sob a liderança de Getúlio Vargas, mantinha uma posição pró-Alemanha à época e, além disso, em 1937, pôs em vigor a chamada Circular Secreta 1.127, que limitava a entrada de judeus em solo brasileiro.
Apesar disso, Aracy de Carvalho ignorou completamente tal obstáculo e continuou a despachar vistos para judeus. De acordo com pesquisas realizadas por historiadores, Aracy facilitava a entrada dos judeus no Brasil escondendo os vistos entre os papéis que aguardavam assinatura do cônsul geral, uma vez que ela despachava com ele.
Para conseguir a aprovação, ela simplesmente ignorava a ordem de acrescentar um J nos papéis, o que identificava a papelada pertencente a um judeu.
Métodos de Aracy de Carvalho para salvar vidas
Além de atuar em prol dos judeus dentro do consulado brasileiro, Aracy de Carvalho chegou até mesmo a transportá-los em seu veículo próprio para fora das fronteiras alemãs.
Apesar de perigosa, essa tarefa era um tanto quanto mais simples para ela, uma vez que, por ser do consulado, seu carro não passava por vistorias da guarda alemã.
Outra forma utilizada por Aracy de Carvalho para auxiliar na fuga de judeus da Alemanha era no momento do embarque em navios com destino ao Brasil.
Para ajudar a reconstruir suas vidas, Aracy levava dinheiro e joias para os fugitivos. Após salvar tantas vidas, passou a ser conhecida por aqueles a quem salvou como o Anjo de Hamburgo.
O reconhecimento por seus feitos
Vista por muitos anos como a mulher de Guimarães Rosa, seu jeito reservado e extremamente discreto pode ter sido o disfarce perfeito para concluir com êxito o salvamento de centenas de vidas, desafiando as leis alemãs e brasileiras, além de se impor diante das crueldades impostas por Hitler e o partido nazista.
Apesar de seus feitos grandiosos, sua discrição era tamanha que somente no início dos anos 80 veio, de fato, um reconhecimento por seus atos heroicos, sendo agraciada com o título de “Justo entre as nações”, honraria concedida pelo Memorial do Holocausto, em Israel, como forma de reconhecer os não judeus que ajudaram a proteger e a salvar vidas durante a Segunda Guerra Mundial.
Além disso, Aracy de Carvalho também recebeu uma homenagem no Museu do Holocausto, em Washington.
Aracy de Carvalho faleceu em 28 de fevereiro de 2011, na cidade de São Paulo, aos 102 anos de idade, deixando um filho, quatro netos e oito bisnetos.
Fonte: IFCJ
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