Saiba como a seca histórica na Síria levou o país a um êxodo rural e plantou as sementes da Guerra Civil
Não é de hoje que o oriente médio é palco de conflitos militares, a região que historicamente viveu poucos e curtos períodos de relativa estabilidade é um campo de batalhas travadas por diferentes povos há milênios. Atualmente o conflito mais violento acontece na região que podia ser considerada a Síria até alguns anos atrás, afetando milhões de pessoas, a Guerra na Síria teve inicio há seis anos e já vitimou de 300 mil, de acordo com a ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), a 400 mil pessoas, segundo dados obtidos pelo jornal britânico The Guardian, provocando também o deslocamento de milhões de civis dentro e fora das fronteiras do “território sírio”, e assim como dezenas de milhares de cidadãos líbios, iraquianos, entre outros, os sírios tentam buscar refúgio em países europeus, provocando a maior crise migratória desde a Segunda Guerra Mundial.
São vários os fatores que levam o Oriente Médio a ser considerado o barril de pólvora do mundo, dentre eles estão o autoritarismo estatal, contestação de territórios, religião, perseguição étnica e disputas por recursos naturais, sendo este ultimo fator o mais citado em qualquer roda de conversa que tenha como tema a região, o petróleo é um recurso mineral cobiçado por qualquer país, possuí-lo é considerado sinônimo de riqueza e de conflito, principalmente no Oriente Médio, mas nos últimos anos outro mineral tem sido cada vez mais escasso naquela área, a água.
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A Síria tem passado na ultima década por uma seca que já é considerada a pior da sua historia moderna, servindo como um combustível a mais para o surgimento de conflitos. Antes mesmo do inicio da Primavera Árabe e da Guerra na Síria o país já era tema de reportagens da mídia internacional, falava-se sobre uma seca que também atingia o Iraque e causava o comprometimento da produção de alimentos nas terras cultiváveis do rio Eufrates.
Naquela parte do Oriente Médio o Crescente Fértil se tornou praticamente estéril, os antigos sistemas de irrigação entraram em colapso, fontes de água subterrânea secaram e centenas de aldeias foram abandonadas conforme as terras se transformavam em deserto rachado e os animais morriam. “Eu tinha 400 hectares de trigo e agora está tudo deserto, fomos forçados a fugir e agora temos menos do que zero – sem dinheiro, sem emprego, sem esperança”, disse Ahmed Abdullah, um agricultor de 48 anos, durante matéria produzida pelo The New York Times em 2010, acampamentos de agricultores como Abdullah, que perderam tudo por conta da seca, surgiram em torno de grandes cidades da Síria e do Iraque, levando os centros urbanos a uma explosão populacional.
A Síria, que se orgulhava de sua auto-suficiência do trigo e até mesmo exportava o produto, precisou importá-lo em quantidades cada vez maiores. Os recursos de água do país caíram pela metade entre 2002 e 2008, em parte por causa do desperdício, segundo cientistas e engenheiros. A seca na Síria levou entre 2 milhões e 3 milhões de pessoas à extrema pobreza, de acordo com um estudo concluído em 2010 pelo relator especial da ONU sobre o Direito à Alimentação, Olivier De Schutter. Os pastores do nordeste do país diziam ter perdido 85% de seu gado e pelo menos 1,3 milhões de pessoas foram afetadas, relatou.
Quando a primeira leva de protestos começou em 2011 os atingidos pela seca não demoraram em se juntar a movimentos de oposição ao governo sírio, fartos da ingerência e do autoritarismo do governo que é controlado há mais 40 anos pela família do presidente Bashar al-Assad. “O desastre sírio é como uma supertempestade. É o que ocorre quando um evento climático extremo, a pior seca da história moderna da Síria, se combina com uma população em rápido crescimento e um regime repressivo e corrupto que desencadeia paixões sectárias e religiosas extremas, alimentadas pelo dinheiro de potências externas rivais – Irã e Hezbollah, de um lado, Arábia Saudita, Turquia e Catar, do outro – e no momento em que os EUA, em sua fase pós-Iraque, estão receosos de se envolver” escreveu o colunista Thomas Friedman, do The New York Times.
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