Por muito tempo eu tenho visto que uma postagem ou outra sobre a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial provoca uma discussão acalorada sobre aquele motivo que se tornou o estopim de nosso envolvimento militar: os afundamentos dos navios.
Apesar de os fatos serem claros, atestando que os ataques foram realizados por submarinos do Eixo em nossa costa e em águas do Hemisfério Norte e da África do Sul, ainda persiste a insistente alegação de que, na verdade, nós fomos “ludibriados” a entrar na guerra por submarinos americanos, que afundaram nossos navios e colocaram a culpa nos alemães.
Vou fazer aqui minha análise, baseada no que sei e pesquisei ao longo desses anos, e vou tentar jogar uma luz no assunto.
Primeiro, esta história de “submarinos americanos nos atacando” surgiu anos depois da guerra, na forma da conhecida ofensiva revisionista de esquerda que tanto afeta o Brasil desde longa data, e que também é responsável pelo famoso mito de que o Império Brasileiro lutou a Guerra do Paraguai a mando da Inglaterra (nem tínhamos relações diplomáticas com a Inglaterra na época, só para vocês verem até onde esse pessoal é capaz de ir para denegrir a imagem do próprio país), mas isso é assunto para outra discussão.
Embora presa no Mediterrâneo pela presença inglesa em Gibraltar, a Regia Marina conseguiu passar um número de seus grandes submarinos para o Atlântico, operando a partir de Bordeaux, na França, uma unidade chamada BETASOM (Bordeaux Sommergibile) sob comando do Almirante Angelo Parona, que respondia diretamente a Karl Doenitz em Berlim.Desta maneira, não é de se estranhar que o próximo navio brasileiro a ser afundado, oCabedelo, o foi pelo italiano RS Da Vinci no Atlântico Norte, em 25 de fevereiro. Este afundamento foi inclusive o primeiro a apresentar um grande número de baixas: 54, toda a tripulação.
Aí vem a famosa alegação: os americanos desejavam atrair o Brasil para a guerra, então afundou-lhes os navios e jogou a culpa nos alemães. E isso faz sentido? Vejamos: em agosto de 1942, o Brasil já recebia em seu próprio território a maior base americana fora dos EUA; já havia aeronaves e navios americanos operando por todo o litoral, desde Natal até Florianópolis; já vendia para os EUA todo tipo de matéria-prima que estes necessitavam; e ainda era suprido pelos EUA com as armas que havia solicitado.Mas vimos que os alemães não viam com bons olhos a questão do suprimento de matérias-primas brasileiras aos Estados Unidos (afinal, sem borracha para fazer pneu nenhum exército se move), e desde o começo do ano vinham atacando os mercantes que faziam este suprimento para os EUA. Repare que eu escrevi “os mercantes”, e não “os navios brasileiros”. Isso porque os alemães atacaram qualquer navio que suprisse os EUA.
Os mexicanos entraram em guerra até antes de nós, em 22 de maio de 1942, porque dois petroleiros seus foram afundados por U-Boots. Então, percebemos aí a clara política alemã de não distinguir bandeiras de navios, visto que o importante era prejudicar o esforço de guerra norte-americano. E esta é uma decisão puramente prática, porque neste estágio não restavam mais grandes potências que a Alemanha pudesse temer: todas já eram suas inimigas.
Desta forma, o risco calculado de afundar navios de nações neutras era, para a Alemanha, baixo, quando comparado aos benefícios de prejudicar o abastecimento dos EUA.
As provas documentais dos ataques vão de acordo com o desenrolar da situação política da época: o crescente alinhamento político e estratégico do Brasil com os Estados Unidos fez com que a Alemanha e Itália começassem a atacar os navios brasileiros, o que eventualmente levou o Brasil à beligerância.E às provas documentais somam-se as evidências físicas: 11 submarinos do Eixo encontram-se afundados nas costas brasileiras, e um deles (U-513) foi localizado na costa de Santa Catarina em 2011. Não é difícil concluir que 11 submarinos afundados em nossas costas demonstram que um esforço naval de porte foi montado contra nós.
Excelente trabalho de pesquisa e bem esclarecedor, aprendi na escola que era o mais provável os Americanos terem feito os afundamentos, mas contra fatos e documentos não restam dúvidas da teoria da conspiração. Obrigado por deixar a história mais limpa e sem mitos.