Conheça o gás mostarda e entenda como se deu sua utilização durante a Primeira Guerra Mundial
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A evolução da indústria química, ocorrida no século XIX, refletiu de forma direta, concisa e fatal no desenrolar da Primeira Guerra Mundial. Com novas possibilidades recém implementadas como armas, apesar da Convenção de Haia de 1899 decidir pela proibição de tais armamentos, o conflito acabou servindo como laboratório experimental, onde produtos químicos, até então sem utilidade militar formal, foram empregados em larga escala.
Uma dessas armas, e certamente uma das mais conhecidas, é o gás mostarda. Embora sua primeira descrição date de 1822, por César-Mansuète Despretz, e sua toxicidade tenha sido mencionada somente em 1960, por Frederick Guthrie, que observou os efeitos do produto em sua própria pele, foi na Grande Guerra, mais de cinco décadas depois, que ele foi, de fato, usado como arma.
Depois de vários anos de pesquisa, a síntese final para transformar o gás mostarda em um poderoso armamento a ser utilizado pelos alemães viria pelo método de síntese Meyer-Clarke, em homenagem ao inglês Hans T. Clarke e ao alemão Victor Meyer, responsáveis por tal pesquisa.
O que é o gás mostarda?
O que comumente é chamado de gás mostarda, na química, é o C4H8Cl2S (1,1-tio-bis-2-cloroetano), um composto altamente tóxico que, em sua forma mais pura é totalmente incolor e inodoro, ou seja, não possui cor e nem cheiro. Seu nome popular se dá por conta de sua forma impura, que apresenta odor com alto teor de acidez e cor amarelada, semelhantes ao da mostarda.
Apesar de ser popularmente conhecido apenas como um gás, sua forma inicial é líquida, porém, pode ser apresentado como uma espécie de vapor, como é o caso de sua utilização como armamento.
Qual o efeito do Gás Mostarda?
Não é atoa que esta arma química, assim como diversas outras tão desumanas quanto, é um dos alvos de proibição da comunidade internacional. O gás mostarda possui um alto poder de ação vesicante, ou seja, ele é capaz de criar bolhas que se transformam em feridas graves por toda a extensão da pele do corpo humano.
Além da ação cutânea, que já não é nada agradável, o gás mostarda também possui a capacidade de afetar os olhos da vítima, que, na grande maioria das vezes, acabava por ficar cega após manter contato com essa arma.
Como se já não bastasse as ações externas desse gás, há também consequências para a região interna do corpo. Se inalado, o gás mostarda é capaz de destruir completamente as vias aéreas da vítima, tornando-a completamente incapaz de se manter ativa no campo de batalha, no caso de uma guerra, ou até mesmo levar à morte por asfixia, que era o resultado na grande maioria dos casos no decorrer da Grande Guerra.
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Utilização do gás mostarda na Primeira Guerra Mundial
É aceito pela grande maioria das literaturas, senão todas, que a primeira utilização do gás mostarda se deu em 12 de julho de 1917, enquanto alemães tentavam de todas as formas tomar a cidade de Ypres, na Bélgica, das mãos dos aliados.
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Na época, a utilização de armas químicas ainda era uma grande interrogação e essa falta de experiência por parte dos soldados acabou resultando em um grande número de baixas de ambos os lados, uma vez que não só os alvos eram atingidos, mas também quem os lançava, que acabava se equipando apenas com máscaras de proteção, que não se mostravam muito efetivas, uma vez que o gás mostarda possui efeito cutâneo, ou seja, ele age mesmo que só entre em contato com a pele, e mantinham outras partes do corpo completamente expostas.
Utilização do gás mostarda pós Primeira Guerra Mundial
Após o fim da Grande Guerra, o gás mostarda continuou acumulando milhões de vítimas mundo afora. O produto foi utilizado em conflitos como a tomada da Etiópia pela Itália, ocorrido em 1935 e 1936; a conquista japonesa sobre os chineses, de 1937 a 1945; no decorrer da Segunda Guerra Mundial, porém, dessa vez, sob ordens de países pertencentes aos Aliados; na guerra civil do Yemen e no conflito Irã-Iraque, de 1983 a 1988.
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Houve também a suspeita de que a organização Estado Islâmico pudesse ter fabricado bombas de gás mostarda e as utilizado durante conflitos na Síria e no Iraque, em 2015. As acusações foram investigadas pela Organização para a Proibição das Armas Químicas (OPAQ), porém, nada conclusivo.
Atualmente, o gás segue como uma das armas mais letais da história e, por conta disso, permanece na relação de armamentos de utilização proibida em qualquer tipo de conflito pelo mundo.
Informações: Centers for Desease Control and Prevention
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